quinta-feira, setembro 30, 2004

Perfeição

O Infante
Fernando Pessoa

Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce

Deus quis que a Terra fosse toda uma
Que o mar unisse, já não separasse
Sagrou-te e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi
De ilha em continente
Clareou correndo até ao fim do mundo
E viu-se a Terra inteira, de repente
Surgir redonda do azul profundo.
Quem te sagrou, criou-te português
Do mar e nós em ti nos deu sinal
Cumpriu-se o mar e o império se desfez
Senhor falta cumprir-se Portugal.

Se há coisas difíceis de alcançar, a perfeição é uma delas. Ao ler este poema de Pessoa, fico com a sensação que o autor esteve lá muito perto. Inserido na «Mensagem», o poema faz-nos pensar na universalidade do ser português e de um Portugal que faltaria (e a meu ver falta ainda) cumprir.
Mas, a provar que a perfeição não é um conceito estático ou definitivo, surge Dulce Pontes. A intérprete (uma das minhas preferidas) compôs, segundo ela por acaso, uma melodia que se liga de forma harmoniosa com estas palavras. Emprestou-lhes a sua voz, intensificando a aura celestial e aquífera que transportam, num redobrar de sentimentos. Para mim, ao ouvi-la, é como se voasse por entre as velas de uma nau quinhentista entre um mar imenso e um céu azul não menos medonho.

O meu conselho é que ouçam essa obra - se não perfeita, muito perto disso - aqui.
(Se não conseguirem ouvir, carreguem com o botão direito do rato e escolham "Guardar destino como" para fazer download)

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial