quinta-feira, outubro 28, 2004

Uma vida é muito pouco

Tenho dado comigo a pensar que uma só vida é capaz de ser altamente limitante.
Ando com isto no pensamento há algum tempo. Não que esteja insatisfeito com o rumo que escolhi para esta – tristemente única – vida mas, sucede que ainda não houve tempo para que produza os resultados e os sonhos (bem sei que também alguns pesadelos) se tornem realidade. Mais, acontece também, que há tanta coisa que me apetece fazer: o mundo, tal como os pensamentos, é diverso!
Mas, voltando ao ridículo número de vidas que temos disponíveis: uma, nem mais nem menos!
Se fosse possível encomendar outras, eu mandava vir – lá dos sítios de onde vêm vidas – no mínimo, mais duas.
Numa delas seria músico, sem dúvida. Talvez até cancelasse a encomenda da segunda. A música é uma das minhas grandes paixões. Dirão alguns não correspondida e terão, por ventura, razão mas não posso fazer nada contra isto: gosto mesmo de cantar! Deixar o trinar de uma guitarra portuguesa conduzir-me o espírito, incentivar o ritmo a tomar conta do meu estado de espírito, ver onde levam aquelas palavras e, sobretudo, brincar com a minha voz: sentir que o que aquilo que estou a sentir inunda a minha garganta, faz vibrar os meus tímpanos – pelos dos outros não me responsabilizo – e me dá, em dobro, o sentimento que lhe quis dar. Não queria ser um músico famoso! Gostava apenas de ter formação musical, de dar alguma “ciência” à paixão que tenho … talvez tocar medianamente um instrumento e, quem sabe, compor.
Na outra gostava de ser arquitecto. Acho formidável a capacidade que eles – pelo menos alguns – têm de, frente a uma folha de papel assustadoramente branca, idealizar todo um espaço ou edifício com soluções capazes de maravilhar qualquer observador (ainda fico meio atordoado ao olhar para a pala do Pavilhão de Portugal de Siza Vieira). Gostava de ter essa capacidade de mudar os espaços, de tornar uma zona industrial decadente numa EXPO 98, de traçar a esquadria de uma baixa pombalina, de criar um Municipal de Braga ou um Estádio do Dragão – só para citar exemplos lusos. No fundo, de contribuir para um mundo exterior agradável que pudesse ajudar a mediar alguns mundos interiores menos satisfeitos.
Não acho isto nada bem! Devíamos ter direito a mais …

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