segunda-feira, janeiro 24, 2005

Não! Não é triste!

É muito frequente ouvir-se dizer que o fado é uma canção triste. Cada vez que falo com alguém de outro país sobre o fado, não obstante os rasgados elogios à beleza e tipicidade do género musical, a conversa passa sempre por algo não muito longe do "oh yeah, that typical portuguese sad song!". É até esta a razão que muitos - a quantidade pouca importa - dos portugueses que não gostam de fado apontam para justificar a sua opinião.
Não sendo, de forma alguma, alguém com pergaminhos nesta área, permito-me discordar, totalmente!
Antes de mais, sob a designação Fado, cabem subgéneros completamente diferentes pelo que, olhá-lo só da perspectiva do fado tradicional, é algo um perfeitamente redutor. Desde logo, o fado Académico, com a toda a sua aura romântica e algo boémia até, dificilmente se poderá considerar uma canção triste.
Mas mesmo aquelas canções que cabem naquilo que designei por fado tradicional (de que são certamente exemplos títulos como «Barco Negro», «Povo que lavas no rio» ou «Cavaleiro Monge», só para citar alguns) não creio que possam ser descritos como tristes. É certo que versam temas melancólicos e aludem, frequentemente, à tão peculiar saudade. Mas será a saudade um sentimento, necessariamente triste? Creio que não, longe disso. Para mim, o fado, dando de graça que, muitas vezes, versa temas saudosistas e melancólicos, é muito mais que isso. É introspectivo, denso, profundo, dotado de uma consistência tal que nos envolve em nós próprios: não, não é triste!
Ainda que esteja errado e, tal como já aqui escrevi, quando ouço a Mariza cantar "Ó gente da minha terra" não consigo evitar de sentir que é directamente para mim que ela fala.

Deixo só aqui duas sugestões para ouvirem: «Havemos de ir a Viana» por Amália Rodrigues e «Feira de Castro» por Mariza. Serão tristes estas canções?

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