terça-feira, agosto 31, 2004

Bar Anrique


Aqui vai um pensamento em forma de sugestão! No 17º andar do edifício que podem ver em cima (Hotel Dom Henrique) existe um bar encantador, com uma atmosfera intimista e uma vista invejável sobre a cidade do Porto. Há muito que lá não vou. Hoje, lembrei-me dele porque me veio à memória um episódio da noite em que o descobri pela primeira vez. A minha sugestão é que o visitem (é fácil dar com ele se estiverem pela baixa), num início de noite, após um bom jantar, bem acompanhados e que espreitem pelas amplas janelas que o bar oferece sobre a zona histórica do Porto, sobre o rio e sobre a outra margem. Se tiverem a sorte de o fazer num dia em que haja música ao vivo (geralmente de muita qualidade) melhor ainda!
Acreditem: terão uma visão nocturna da cidade inesquecível e o ambiente é propício à conversa e a alguma intimidade (entenda cada um a "intimidade" como mais se adequar à sua circunstância)...
O Porto oferece, de facto, imagens lindíssimas! Especialmente pela noita (a propósito podem ler neste blog sobre a simbiose Porto-imagem-música-poema).

PS: este post não teve o patrocínio de qualquer entidade oficial ou não-oficial. É tudo pessoal e, neste caso, transmissível! (que perdoem os senhores da TSF este plágio descarado)

segunda-feira, agosto 30, 2004

Desporto Nacional

Acabaram os JO. A nossa participação saldou-se por 3 medalhas, 10 diplomas olímpicos. Deixo a cada um o trabalho de ajuizar a qualidade da prestação.
Tinha prometido falar dos atletas cujas prestações tivessem sido menos positivas. Vou mencionar, apenas, a vergonhosa e embaraçosa equipa de futebol e o Manuel Silva (3000m obstáculos) - este pela rábula que nos proporcionou depois da prova. Isto porque, muito mais que ganhar medalhas, acho que é preciso termos dignidade.

Queria deixar agora algumas reflexões sobre o desporto em Portugal:
  • vivemos numa cultura de quase mono-modalidade, na qual o futebol (que eu tanto aprecio) monopoliza quase toda a atenção do público e dos media.
  • é bastante difícil proporcionar aos jovens a oportunidade de praticarem um desporto que não o futebol (e mesmo no futebol a maioria das infra-estruturas está reservada a determinadas elites - é raro encontrarmos um campo público onde se possa livremente fazer desporto). Este facto é ainda agravado pela fraca qualidade da Educação Física nas escolas (o que felizmente e, graças a uma nova geração de professores tem vindo a mudar). Todos conhecemos a velha cena do "peguem lá a bola de futebol que vou para ali ler o jornal". Ora, ninguém pode gostar de praticar Ginástica Artística ou de fazer salto em altura, se nunca experimentou.
  • para um país ter, de forma consistente, atletas de elite em diversas modalidades é necessária a existência de 2 requisitos prévios: condições para a prática dessas modalidades (... não há) e um grande número de praticantes de base, o que no caso de Portugal é ainda condicionado pela nossa (pequena) dimensão.

Para mim, muito mais que ganharmos medalhas em competições internacionais importava que fosse possível praticar desporto de forma maciça e transversal na sociedade. Desta forma as medalhas e os grandes resultados seriam uma consequência quase natural e não uma exigência, muitas vezes sem cabimento, sobre um restrito grupo de privilegiados.

O bom brasileiro

Aqueles que, como eu, viram a imagem que se segue devem ter ficado algo entre o estupefacto e o indignado.
Vanderlei de Lima seguia isolado na frente da maratona olímpica quando foi abalroado por um daqueles espectadores com um estúpido cartaz nas costas (não vi o que dizia mas tenho 2 hipóteses: ou era uma qualquer treta anti-Bush, dessas que estão na moda, ou um anúncio a um whisky de 3ª) fazendo-o perder, pelo menos, metade da vantagem que trazia sobre o duo de perseguidores. O atleta brasileiro acabou por ser ultrapassado por ambos os perseguidores e terminou a maratona em 3º lugar. Eu, numa situação destas, a primeira coisa que me ocorreria era, no mínimo, arranjar uma bomba capaz de detonar Atenas e, quem sabe, uma parte substancial das redondezas. O "bom brasileiro", contudo, entrou no Estádio Panathinaiko de braços erguidos e a festejar "à brasileiro". Se existe lá aquilo que eles chamam olimpismo deve ser qualquer coisa parecida com o que Vanderlei de Lima fez. O COI decidiu atribuir-lhe a medalha Barão Pierre de Coubertin , o que me parece da mais elementar justiça.

domingo, agosto 29, 2004

Sala de espera

Esta noite, estive cerca de 3 horas na sala de espera do Serviço de Urgência de um hospital à periferia do grande Porto, por motivos que não vêm aqui ao caso. Por força da minha profissão e graças a nunca ter tido problemas de saúde de maior, estou muito mais habituado a estar do outro lado da porta da urgência. Venho aqui dar conta de uma experiência ... digamos perturbante mas também enriquecedora. O grupo de palavras mais usado era, de longe, o palavrão, maioria das vezes para classificar o corpo médico; muitas outras apenas a propósito (ou despropósito) de uma qualquer coisa. Desde manifestações de flatulência que alertavam pelo menos 2 dos 5 sentidos, passanto por eructações (o velho arroto!) até cuspidelas janela fora vi um pouco de tudo. Marcantes foram também os diversos raciocínios e conceitos médicos que as mais diversas entidades presentes naquela sala emanavam. Estes provocavam em mim uma estranha alternância entre uma vontade de rir quase incontrolável e um súbito impulso de cortar os pulsos (que a custo consegui evitar). Ao ponto de, a certa altura da noite, um digno utente se indignar por a máquina de distribuição automática não ter Super-Bock (que me desculpem as outras respeitáveis marcas) e começar a fumar um belo dum cigarro, não obstante os vários e grandes sinais de proibição.
Foi sem dúvida uma noite de Sábado ... diferente!

sexta-feira, agosto 27, 2004

Mescla

Desporto

  • O FCP perdeu a Super-taça Europeia - parece que é verdade: nem sempre se ganha! Saber fazê-lo com dignidade também é muito importante. Assim foi.
  • O crepúsculo da raínha Fernanda - A melhor atleta portuguesa de sempre: Fernanda Ribeiro - desistiu dos 10.000m olímpicos. Está em fim de carreira. Por tudo o que fez merece uma saída diferente. Espero que ainda seja capaz de pintar de tons no espectro do dourado este crepúsculo.

Estranhas relações luso-europeias

  • um primeiro-ministro altamente impopular em Portugal é chamado para chefiar uma das mais importantes instituições da UE
  • o melhor guarda-redes da europa (de acordo com a UEFA) não tem lugar na selecção portuguesa. O melhor defesa central e o melhor jogador europeus (de acordo com a mesma organização) têm lugar mas nem sempre a titulares

Linhas SMS

Já alguem se viu confrontado com um anúncio de TV que diz, numa voz que me abstenho de adjectivar: "pst pst... quer saber uma boa fofoca e não tem tempo para ler as revistas cor de rosa? Mande um SMS para XXXX e recebe uma fofoca no seu telemóvel!" (ou qualquer coisa do género).
Já viram o quão trágico não é querer saber um fofoca e não ter tempo para ler as ditas revistas?!!! Ainda bem que existem estas linhas!!
Eu pessoalmente dá-me vontade de partir a TV e, já agora, utilizando o telemóvel ... just in case ... para não correr riscos!
PS: o responsável pela PALHAÇADA deste anúncio é, nem mais nem menos, o Cláudio Ramos ...

UEFA

  • Porto vs Chelsea; PSG e CSKA Moscovo
  • Benfica vs Dukla Banska Bystrica
  • Sporting vs Rapid Viena
  • Braga vs Hearts of Midlothian
  • Nacional vs Sevilha
  • Marítimo vs Glasgow Rangers

Ou muito me engano ou já anda aí muita gente a treinar a pronúncia! E todos sabemos como uma equipa cujo nome se pronúncia dificilmente pode trazer desgraça... Eu espero que não! E já consigo dizer nome destas equipas todas: à primeira!

PS: há ali uma equipa que tem 3 adversários é o CAMPEÃO DA EUROPA, está outra vez entre os melhores!

quinta-feira, agosto 26, 2004

Nem só de medalhas se faz um campeão

Parabéns por tudo!

Se Isto É Um Homem

A França celebrou ontem o 60º aniversário da libertação de Paris do domínio nazi. Já não é a primeira vez que dou para mim a pensar que toda aquela barbaridade da II Grande Guerra Mundial não foi assim há tanto tempo. Nascido em Portugal, no início da década de 80 do século passado, penso estar longe (felizmente) de saber o que foram aqueles anos de desgraça. O acaso de ter nascido num aniversário do Dia D, fez com que tivesse sempre uma especial curiosidade por essa página negra da história mundial. Mais ainda quando, no meu dia-a-dia, me vou apercebendo que o meu pai teve o triste fado de ter participado, ele próprio, numa guerra (acreditem que a guerra deixa marcas em todos): a estúpida guerra colonial!
Há alguns anos li um livro fantástico (que aconselho a todos, não sem antes avisar que se trata de um texto sentimentalmente pesado): «Se Isto É Um Homem» de Primo Levi. É o relato de um sobrevimente do campo de concentração de Auschwitz. Relato frio, realista (tão realista quanto poderá ser a visão de apenas uma das partes) ... tão frio e seco que, por muitas vezes, é insuportavelmente cínico. Durante a leitura, acompanhou-se sempre a sensação: "ok, agora não é possível descer mais baixo". Puro engano, havia sempre mais alguma barbaridade para descrever. Todas com o intuito de diminuir a níveis indetectáveis a dignidade humana. Logo nas primeiras páginas pode ler-se uma estatística que nos deixa em sentido: "(...) Entre as quarenta e cinco pessoas do meu vagão, só quatro voltaram a suas casas; e foi de longe o vagão que teve mais sorte." (eram 12 vagões: 650 pessoas).

"Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais forças para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara" («Se Isto É Um Homem», Primo Levi)

Dá que pensar. Afinal tudo isto não foi assim assim há tanto tempo...

quarta-feira, agosto 25, 2004

Pedido de desculpas

Devido a uma alteração no funcionamento destes «Pensamentos Diversos», que visa tornar os comentários mais fáceis, foram perdidos os comments previamente feitos. A todos as minhas desculpas, mas agora já podem comentar com "mais força"!

terça-feira, agosto 24, 2004

De novo o brilho do meio fundo



Esta medalha soube maravilhosamente! Ainda ontem dizia a um amigo que, depois da forma como o Rui Silva tinha corrido a eliminatória e a meia-final, achava que ele tinha as suas hipóteses ... mas nem queria falar porque podia dar azar. Portanto, calei-me! Mas hoje quando vi a forma como ele mudou de velocidade durante a última curva vi concretizar a minha "profecia". A medalha de bronze nos 1500m, tal como as outras duas tem um significado importante. É o meio fundo a renascer um pouco das cinzas e é ver o Rui Silva, que nas últimas saídas internacionais pré-Atenas tinha dado tão má impressão, voltar a por em acção o talento que todos lhe reconhecem. Ainda por cima com todo o domínio que os africanos exercem nesta especialidade!
Assim: cá está a nossa terceira medalha. Com todas as limitações do desporto no nosso país (ideia que retomarei noutra altura), estes arriscam-se a ser um dos melhores JO de sempre para as cores lusas.

Porto Sentido

Hoje, na minha viagem diária ao Avenida dos Aliados, encontrei uma bela visão da ribeira do Porto e dei comigo a pensar na minha primeira viagem de regresso Lisboa-Porto. Era noite, Setembro e o comboio fazia os seus quilómetros finais. Eu, ansioso, estava já à porta daquele, mais ou menos lento, Intercidades. De Gaia, a visão, por entre os prédios, era de um Porto mais belo que nunca. Talvez impulsionado pela nostalgia do regresso, comecei a acompanhar as imagens recortadas do Porto histórico com as fantásticas palavras de «Porto Sentido» (Rui Veloso/Carlos Tê). Ainda hoje, ao lembrar, sinto o mesmo nó na garganta que o final daquela viagem me provocou.
Proponho que "re-ouçam" a dita música e que imaginem o Porto ao som destas palavras...

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende ate ao mar
Quem te vê ao vir da ponte
és cascata, são-joanina
dirigida sobre um monteno meio da neblina.
Por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.
E esse teu ar grave e sério
dum rosto e cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria
Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez em cada regresso a casa
rever-te nessa altivezde milhafre ferido na asa

segunda-feira, agosto 23, 2004

E foi vê-la subir ...



E foi vê-la subir ao 2º mastro mais alto. Aquelas imagens souberam, de certa forma, "a pouco" por não se ter ouvido «A portuguesa» entoar no estádio (ao contrário do que anunciou, ontem no Telejornal, Judite de Sousa - e eu que te acho tão boa profissional ... não terás nunca reparado em tantos anos de jornalismo que só se toca o hino do país vencedor?!). Foi aquele segundo que nos tramou. Enfim, nos 200 m sempre há mais pista ...

domingo, agosto 22, 2004

E onde estão os - ?!

Mandaria o rigor que, em abono da verdade, falasse também das prestações menos positivas. No entanto, sacrifico, pelo menos para já, o rigor jornalístico à alegria dos louros recém conseguidos. Aliás, sou da opinião que em tempo de "batalha" devemos fazer um esforço por não destabilizar as tropas. Lá para o fim do mês, e em jeito de balanço final, penso por um post com algumas farpas a certas vedetas e algumas reflexões sobre o estado desporto nacional.

Alguns outros +

Dignas de registo foram também as prestações de Nuno Merino no trampolim e de Gustavo Lima na vela.
Em relação ao primeiro, e para um desconhecedor de ginástica, a prova dele impressionou-me. Aliás pareceu-me até que não fosse o "nome" do 4º e 5º classificados, seria luso o ingrato lugar abaixo do ambicionado pódio. Assim o disseram também os comentadores da RTP durante a prova, não obstante a natural excitação patriota que os tomava. Nuno Merino salta para a melhor participação lusa de sempre numa disciplina da ginástica, numa modalidade que parece florescer no país.
Quanto a Gustavo Lima, eterna promessa de medalha olímpica, há que dizer com honestidade que esperava mais ... contudo àquele nível parece ser muito complicado. Teve quase lá e chegou a fazer brilharete com alguns primeiros lugares nas regatas. É um quinto lugar, mais um lugar entre os 8 diplomas olímpicos.
Espero que os + não fiquem por aqui ... ainda há JO pela frente. Boa sorte a todos!
PS: já repararam no comentador da RTP para as provas de ginástica artística?! Com todo o respeito, o senhor tem voz e alguns comentários ao melhor estilo de uma personagem caricatutal do Herman ...

Portugal nos Jogos Olímpicos: os +

Ao 9º dia: a segunda medalha de prata.



Depois da algo inesperada conquista do Sérgio na prova de estrada em ciclismo veio a, mais ou menos, esperada medalha nos 100 m por Francis Obikwelu. Qualquer medalha olímpica é (ou, na minha opinião, deveria ser) motivo de orgulho para as hostes daqueles que as conquistam. Estas duas, no entanto, levam-me a alguns pensamentos...
A primeira, arrancada no seio dos "tubarões" do pelotão mundial com uma humildade e força tais que muitos (grupo no qual me incluo) não acreditavam que fossem suficientes para um feito desta grandeza. Ao autor deste feito: o elogio da coragem, persistência e humildade sincera que fazem dele ainda mais campeão (se isso é possível para quem tem ao peito a prata olímpica).
A segunda (esperemos que não última) é de igual forma marcante. Se o pelotão de ciclismo estava repleto de tubarões, nas 8 pistas de Atenas estavam quase sem excepção os melhores velocistas da actualidade mundial . Francis Obikwelu arrancou entre 2 americanos a prata e encheu a pista de verde e vermelho rubro. E se tivesse ficado por aqui já haveria mais que razões para festejar e reflectir. Mas não foi só! Fez tombar o record europeu da prova que por agora está pintado das nossas cores, com um fantástico 9,86 s (penso que só na maratona é que tal acontece através de António Pinto). Bem sei que muitos dirão que o homem é nigeriano de origem. Aliás é ver a insistência saloia das perguntas dos jornalistas sobre a nacionalidade do atleta. Alguns dirão até que ele já nem em Portugal treina (o que é verdade). Mas, a meu ver, muito mais importante que isso tudo é que este homem passou por momentos difíceis. Foi Portugal quem soube apoiá-lo nessa fase e ele grato quis nos dar alegria de ontem. Ele próprio, sempre que fala à imprensa (e são poucas as vezes), faz questão de lembrar o apoio que recebeu e realçar que o país dele agora é Portugal. Saibamos, sem hipocrisia, receber esta oferta que ele nos quer dar .... afinal de contas alguém que quer vingar a derrota pátria frente aos gregos no Euro 2004 só pode ser um verdadeiro português!